Uma investigação conduzida pela Agência Nacional do Crime do Reino Unido (NCA) revelou uma vasta rede russa de lavagem de dinheiro conectando narcotraficantes, cibercriminosos, elites de Moscou e até operações de espionagem do Kremlin.
Batizada de Operação Destabilize, a ação desmantelou um esquema global que movimentava bilhões de dólares por meio de criptomoedas e outras formas de ativos.
A operação, que já resultou em mais de 80 prisões, foi divulgada na quarta-feira, mesmo dia em que os Estados Unidos anunciaram sanções contra os principais líderes da rede. Segundo Rob Jones, diretor de operações da NCA, a investigação expôs "uma forma de lavagem de dinheiro em escala sem precedentes" e permitiu mapear a ligação entre elites russas, gangues de drogas e cibercriminosos.
Empresas e Clientes Envolvidos
No centro do esquema estão as empresas Smart e TGR Group, ambas sediadas em Moscou e localizadas no icônico Federation Tower. Essas organizações forneciam serviços essenciais para transformar fundos ilícitos em ativos legais, utilizando um complexo sistema que envolvia criptomoedas, propriedades, ações e outros valores.
As empresas tinham presença em mais de 30 países, incluindo o Reino Unido, Europa, Oriente Médio, Rússia e América do Sul. Entre seus clientes estavam cartéis de drogas na Colômbia e no Equador, o grupo cibernético Trickbot/Conti/Ryuk e operações de espionagem ligadas ao governo russo.
Líderes Identificados e Prisões
A investigação identificou líderes das redes, como Ekatarina Zhdanova, descrita como uma figura de destaque nos negócios russos, mas já sancionada pelos EUA em 2023. Outros nomes, como George Rossi, chefe do TGR Group, e seus associados Elena Chirkinyan e Andrejs Bradens, também foram sancionados.
Zhdanova foi presa na França como parte de outra investigação. Enquanto isso, Rossi segue foragido. No total, a operação resultou em 84 prisões, sendo 71 no Reino Unido, e a apreensão de mais de £20 milhões (cerca de US$ 25 milhões) em dinheiro e criptomoedas.
Da esquerda para a direita: Elena Chirkinyan, George Rossi e Ekatarina Zhdanova. Imagens: NCA DO REINO UNIDO
Como o Esquema Operava
A operação funcionava de forma estruturada:
Traficantes de drogas entregavam grandes somas de dinheiro em espécie a mensageiros que, em troca, ofereciam criptomoedas como USD Tether.
O dinheiro físico era lavado por empresas de alta rotatividade de caixa no Reino Unido ou transportado para outros países.
No topo da cadeia, coordenadores em Moscou utilizavam empresas de fachada para integrar os fundos no sistema financeiro global, frequentemente passando por países como os Emirados Árabes Unidos.
Essas transações forneciam liquidez para cartéis de drogas e grupos cibernéticos, permitindo o financiamento de novas remessas de cocaína e operações de ransomware.
Dinheiro apreendido pela Operação Destabilize. Imagem: NCA DO REINO UNIDO
Conexões com Espionagem e Oligarcas Russos
A rede também foi usada para atividades de espionagem. De acordo com a NCA, a Smart financiou operações de inteligência russas entre 2022 e 2023. Além disso, a TGR Group transferiu fundos de origem suspeita para apoiar uma mídia em língua russa no Reino Unido após sanções contra a Russia Today.
A rede ainda ajudou oligarcas russos a evitar sanções internacionais, destacando a ligação entre elites financeiras e o Kremlin.
Impacto da Operação
A Operação Destabilize foi descrita pela NCA como a maior ação contra lavagem de dinheiro nos últimos 10 anos. Além de desestabilizar as redes criminosas, a operação teve impacto direto nas atividades de crime organizado em Londres, com gangues russas reclamando das dificuldades de operar e aumentando suas taxas de comissão.
“Esta operação atacou e sistematicamente enfraqueceu um sistema que conectava dinheiro ilícito a redes globais de crime organizado,” afirmou Rob Jones. Ele destacou que os esforços continuarão para eliminar os canais que sustentam essas atividades.
Via - RM
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