O Telegram anunciou que começará a compartilhar endereços IP e números de telefone de usuários suspeitos de atividades criminosas com autoridades legais, em resposta a solicitações legais válidas. O fundador e CEO da empresa, Pavel Durov, comunicou a mudança nesta segunda-feira.
Essa decisão marca uma alteração significativa na política da empresa, que anteriormente só permitia o compartilhamento de dados de usuários envolvidos em casos confirmados de terrorismo.
A mudança vem após a prisão de Durov na França, onde o executivo foi investigado por supostamente facilitar o uso da plataforma para práticas criminosas. As autoridades alegam que o Telegram falhou em moderar grupos ilícitos e colaborar com a polícia de maneira eficaz. Durov foi libertado sob fiança, mas está impedido de deixar o país.
O Telegram é uma plataforma de mensagens instantâneas e mídia social popular globalmente, conhecida por priorizar a privacidade dos usuários. A criptografia de ponta a ponta para conversas individuais (não disponível para grupos) e sua postura anterior de não compartilhar dados com a polícia atraíram dissidentes, ativistas e pessoas que desejam evitar censura. Contudo, a mesma privacidade também atraiu criminosos que usam a plataforma para atividades ilegais.
No Telegram, existem grupos e canais dedicados a compartilhar e vender credenciais roubadas, discutir vulnerabilidades cibernéticas, recrutar criminosos, comercializar deepfakes, materiais de abuso infantil, drogas, armas, entre outros.
Autoridades de diversos países criticaram a empresa por sua aparente relutância ou incapacidade de combater essas práticas. A polícia francesa chegou a prender Durov no mês passado, uma medida rara, enfatizando a insatisfação com a postura do Telegram. Apesar de sua libertação, Durov ainda enfrenta restrições enquanto a investigação prossegue.
Antes da atualização, os Termos de Serviço do Telegram proíbiam atividades como envio de spam, fraude, incitação à violência e compartilhamento de pornografia ilegal em canais públicos. Agora, as regras foram ampliadas para incluir a proibição de qualquer atividade reconhecida como ilegal pela maioria dos países, como tráfico de drogas, armas, abuso infantil e venda de documentos falsos.
A nova Política de Privacidade permite que o Telegram atenda a solicitações de autoridades judiciais que envolvam suspeitos de atividades criminosas que violem os Termos de Serviço. Nesse caso, o Telegram poderá divulgar o endereço IP e o número de telefone do usuário suspeito. Essas informações, caso compartilhadas, serão reportadas em um relatório trimestral de transparência, disponível publicamente no canal: https://t.me/transparency.
Durov também destacou em sua declaração que o recurso de busca do Telegram vinha sendo usado para a comercialização de produtos ilegais. A empresa afirma que uma equipe dedicada de moderadores, auxiliada por inteligência artificial, já removeu parte desse conteúdo. Durov incentivou os usuários a denunciarem atividades suspeitas via @SearchReport, caso ainda encontrem conteúdo ilícito.
As novas políticas do Telegram visam desencorajar o uso criminoso da plataforma, mas o sucesso dependerá do comprometimento contínuo da empresa em todas as suas operações. Ainda não está claro, no entanto, como o Telegram responderá a ordens judiciais de países que possam usar essas informações para identificar dissidentes políticos e ativistas, gerando preocupações sobre possíveis abusos de governos autoritários.
Via - HS
Comments